29 de out. de 2005

Nova Iorque - parte 1

Se eu fosse um verdadeiro jovem artista, estes cinco anos em Nova Iorque seriam um grande marco na minha vida. Era para eu estar escrevendo um livro sobre esta experiência formadora, ou então ter me tornado um monstro no improviso, ou ao menos --- se a bagagem burguesa me pesasse --- ter conhecido toda a galera "cool" e estar ajudando alguém a carregar seus pincéis ou amplificadores.

Mas eu sou matemático meio furreca que não é mais tão jovem, jamais foi artista, e nem curte tanto ser verdadeiro, e há um sentido muito profundo em que este meu tempo por aqui é uma péssima alocação de recursos para a humanidade. É o Destino regando uma samambaia de plástico. Bom, talve eu não seja 100% de plástico, mas não quis me deixar regar pelas águas negras do submundo para delas emergir assim bem, digamos, "United Colors of Bennetton". Sempre que o pessoal mais caretinha chega de Nova Jérsei para passar a noite aqui, vejo na cara deles que de Nova Iorque eles só conhecem os lugares errados, que eles entram tortos na cidade e saem daqui pensando que o barato do lugar é outro. Em última instância, a única coisa que me separa desta galera é eu ter consciência do que se passa e ter notado que a Vida não teve a cortesia de me botar uma plaquinha "Semi-artista? Entre aqui!" pelo caminho.

Anote, leitor, porque a informação é útil: quando você ouvir falar de alguém que no Brasil era um merdinha, mas que veio para NY e aqui evoluiu muito na sua arte, especialmente quando cheirou cocaína e trocou memórias de desenhos animados com um futuro grande nome da literatura japonesa (que naqueles tempos trabalhava como michê, é claro), pode ter certeza de que esta pessoa não sou eu.

Um comentário:

João M disse...

Gostei deste post. Existe uma música da Madonna no novo disco em que ela diz "desculpa" em 20 línguas.